Tuas Rosas

    Tão sublime, doce. Perfeita é em seus gentis gestos, em seu sútil sorrir, que ilumina. Esteve pois diante do fio de esperança antes nunca visto. A esperança da vida nestes sombrios dias. Estes dias que meus amigos se foram. Dias de ruas vazias.

    Nestes dias a visão daquelas rosas que amavas era imenso conforto a alma minha já cansada que em dificuldades respirava. Sentindo pesar o corpo, os pulmões que já fracos lutavam em puxar o ar que parecia chumbo. Difícil era o silêncio daquelas noites frias nada havia lá. Só havia as lembranças do que fôra um dia. Naquelas ruas habitadas por silêncios só os já cansados embriados da noite se via ao perambular e os cães que abrigos buscavam.

Nesta melancolia de minha janela via as gotas das chuvas que ressoavam as calhas e telhados, e nada mais além disso se ouvia. Em minha janela repousavam tuas rosas, tão amadas, seu perfume e suas lembranças tão presentes vivas estavam ali e víamos como antes aquele silêncio de meses que meus amigos insistia a convidar para longe de mim. Que minha família em seus braços levava e plantava em meu peito a dor. Em meio aos choros eu via cada história que um ponto final se via por.

 

As pétalas com os dia que passavam caiam. Não mais cultivavam o brilho que antes eu via e assim percebia o tempo que tão lento e sempre igual passava. Nem mais compreendia o sentido somente seguia a espera de que quebrado fosse aquele silêncio vil que me aprisionava aquela sala que só se interrompia quando a única alma vivente, a de um entregador, a porta batia. Ouvia de súbito a voz cansada e abafada. "Senhor Jorge! Seu pedido!". Penso o que haveria de ser de mim sem aquelas almas que traziam-me a comida e o que mais necessitava aos simples apertar de botões em meu telefone. Isolado o sofrimento que assistia diante minha janela no silêncio de todos os dias que pareciam como repetir-se.

O frio das chuvas se pareciam eterno, nada naqueles dias cinzas pareciam mudar, me consolava as lembranças daquela que minha fortaleza fôra e que me dera as mais belas rosas que poderia ver nesta terra. 

As sirenes tocavam incansavelmente, sempre imaginávamos que fosse uma pessoa que cansada se despedia destes dias. Logo voltava o silêncio e assim meses se passavam. Ainda lá isolado refugiado aos livros contemplava o tempo que ainda tinha.

Sentava-me novamente a janela e a observar a rua continuava perplexo diante aquele vazio silencioso. Embriagado com o aroma de terra molhada adormecia em minha escrivaninha...

E assim se foram os dias.

Um som de súbito bateu-me a porta sentia-me estranhamente gelado e ouvia uma voz distante que chamava-me, mas logo se fez o silêncio a apagaram-se as luzes. Nem mesmo as sirenes ouvia. Os pulmões já não se sentiam cansados com ar que pesava. Logo veio uma paz estranhamente suave de demasiada delicada. No fim uma luz suave e uma doce melodia. Algumas poucas vozes distante que meu nome falavam e que conversavam entre si.

-- Vocês lembram como eram os dias antes?

-- Como não haveríamos de lembrar. Seu Jorge tinha razão o dias seriam mesmo difíceis.

-- Como mudou-se a fisionomia desta rua antes tão cheia de vida.

 Logo as vozes silenciaram e eu nada mais ouvia. Tão estranha era a sensação. Mas de repente se aproximando ouvi uma voz sorrindo que cantava e me chamava. Ela cantava tão bem como minha amada. Logo lembrei-me de minhas rosas e pensei que talvez houvesse esquecido de rega-las. Espero que elas estejam bem.

Logo a moça se aproximou-se mais. Não reconheci de imediato. Mas quando olhando para mim ela sorriu suavemente percebe quem era. Estava muito diferente daqueles últimos dias em que nos vimos. Não tinha mais o ar cansado e abatida. Sua pele estava mais uma vez suavemente macia e brilhante sem marca alguma do tempo. Ela sorria para mim como antes. E enfim ouvi uma voz que se aproximou a mim e disse-me "Seja pois bem vindo. Nos regozijamos em vê-lo.". E aquela figura de um senhor logo sorriu-me mansamente e foi embora a cumprimentar outras pessoas. 

Sentia-me leve, em plena forma como quando ainda tinha meus 8 anos de idade tão cheio de energia. Porém mais tranquilo e paciente. O tempo parecia-me não mais importar. Logo ela sorriu novamente e abraçou-me e assim percebi em seu perfume as lembranças que em formas não conseguia compreender bem passavam-se rapidamente em minha mente. Tão logo ela abraçou-me senti uma paz imensa.

Ela conduziu-me pela pequenina estrada cujas margens estavam repletas de rosas. Elas eram lindas. Logo o seu nome veio a cabeça e pronunciei-o.

-- Clarice!

 

 

Wandeson Ricardo, 9 de Agosto de 2020; Pernambuco - Brasil

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