WSRicardo
Artes, matemática e computação.
Crônica Rua Aurora
Crônica de Uma Rua
O senhor Antônio estava muito cansado de seu dia de trabalho a esperar pelo carro que chamara pelo seu celular. Rindo-se pensava, “Que maravilhas desses tempos. Ótimo. Bom meu neto pacientemente ensinou-me a usar este aplicativo. Tão logo peço um carro, este chega…”.
Enquanto esperava observava as ruas cheias e movimentadas das pessoas que largavam e iam pra casa, e os boêmios, que como em seu tempo de mocidade, chegavam para aproveitar a noite. Lembrava-se logo de seu tempo com colegas e amigos em um pequeno café na Rua Aurora. Falavam sobre tudo das artes à poesia e a política. Assistiam recitais e apresentações no grande teatro Santa Isabel.
Logo a nostalgia o afagara, com seus cabelos brancos e tês marcada do tempo, observava como tanto mudaram as coisas. A cidade não tinha mais aquele ar europeu e glamouroso de outros tempos parecia desleixada e pouco ou quase nada cuidada. Via mulheres, trans e homens que negociavam sua companhia com os passantes em suas roupas coloridas e justas com toques de transparências que revelavam sem tanto mostrar suas peles, a fim de preencher o vazio da solidão de alguém.
O ar pesava da fumaça dos carros que substituíra os bondes elétricos. Assombrava-lhe como com todas modernidades e maravilhas dos tempos modernos velhos problemas persistiam. Via a criança maltrapilha que passava tão magra que suas juntas saltavam-lhe os olhos com um olhar tão desolado como aquele que pena a implorar a morte. Chocava-se como algumas coisas não mudavam pelo que lhe parecia.
De súbito sentiu Antônio um puxão a beira de sua calça. Logo virou-se e viu uma menina pálida com rosto empoeirado uma boneca gasta do tempo e das desilusões e dores da vida. Fitou-a. Ela tinha um pão pequeno a mão que pela aparência parecia ter sido apanhado do chão. Logo a lágrima caiu-lhe. Caiu como uma faca afiada que de súbito perfurando-lhe o coração rasgou-lhe em uma dor tão terrível quanto nunca pudera imaginar.
Uma mulher que estava em seu ponto de trabalho aguardando clientes, sem Antônio perceber, o observava e sorriu-se a contemplar mesmo que receosa o gesto do senhor que tomou a menina pela mão caminhou até uma pequenina barraquinha e comprou-lhe um lanche.
Logo ouviu uma buzina! Chegara sua condução pensou Antônio que voltou ao seu posto. A mulher que mais ao lado estava percebendo que ele a notará sorriu e disse “Boa noite! Muito axé pra o senhor!”. Sorrindo e a despedir-se acenou-lhes com a mão notando que a educada mulher aproximara-se da pobre menina órfã. Sorrindo recostou-se ao seu acento quase adormecendo e vendo a imagem da moça que tinha longos cabelos e uma maquiagem delicada e longas pernas fortes, nas quais menina recostada com olhar angelical sorria-lhe. Não bem ao certo poderia dizer mas teve a sensação de ela dizer-lhe “Que Deus o acompanhe senhor” enquanto adormecia.
Wandeson Ricardo